14 de setembro de 2012

O Estádio Universitário, o CDUL e a Cidade Universitária


Em redor da Quinta da Calçada


Um dos locais preferidos da minha infância. Havia muita a descobrir e muito por onde brincar. Podíamos ir "armar" aos pássaros, ver futebol, râguebi, brincar aos "romanos" (na altura estava na moda esse tipo de filmes), lançava-mos canas como se fossem lanças  e uma vez espetaram-me uma no pescoço, ver ténis, pedir cigarros aos estudantes e muito mais coisas. São tantas as memórias que nem consigo colocá-las aqui. Havia umas lagoas ou pântanos na parte do estádio perto da Segunda Circular mas, que foram secadas ou cheias de entulho aí por volta de 1963/64.  Havia o Canil que ás vezes deitava um cheiro horroroso (dizia-se que era quando colocavam os cães nos fornos). Havia umas casas iguais às da Quinta da Calçada, perto dos court de ténis, onde viviam as famílias que trabalhavam no Estádio Universitário. Agora da minha infância, só me lembro do Santana (que aliás vi há dias na oficina do João Téte), os outros já esqueci os nomes. Costumava-mos fingir que éramos atletas e fazíamos corridas na pista, jogávamos à bola e íamos até à esplanada tentar pedir alguma coisa ou só beber água. Quando foi construído o pavilhão em 1966, era mais uma coisa para nós descobrirmos  e mais tarde (1970/71), subíamos ao telhado para espreitar as miúdas nos balneários (coisas de adolescentes). A certa altura, já eu era quase adulto, o Benfica foi para lá treinar durante um verão (talvez 1972 ou 73) e era uma festa ver-mos todos os nossos ídolos, o Humberto Coelho, o Toni, o Zé Henrique e o Hagan, que fazia uns treinos muito duros. Havia um director do CDUL chamado Franklin (creio), que era um tipo porreiro, se bem me lembro, mas dos outros directores do CDUL, já não me recordo de nenhum e alguns estavam sempre a correr connosco. E, é melhor parar por aqui porque como disse são muitas as recordações do Estádio Universitário. Nem falei de um acampamento da juventude que houve ali em 1976, mas isso fica para outra altura.  


O Bairro da Quinta da Calçada, agora é um campo de golfe. Tenho que ir ver a que buraco corresponde a minha antiga casa e depois talvez jogar no euromilhões Foto sem data, mas arrisco que é de 2012, encontrada em lisboacity.olx.pt. 

O Estádio Universitário


«Apesar da edificação ter sido planeada em 1930, só foi inaugurado em 1956, ano em que acolheu os IV Campeonatos da FISEC - Federação Internacional Sportiva do Ensino Católico. Local de variados e importantes eventos desportivos, destaque-se, ainda,  o II Campeonato Mundial Universitário de Judo, em 1968, que trouxe a Lisboa alguns dos melhores judocas mundiais. Em 1955, os arquitectos João Simões e Norberto Correia projectaram um estádio destinado a ter pouco público, mas possibilitando a prática de várias modalidades, entre as quais o rugby, o futebol, o andebol, o hóquei em campo e o atletismo. Ao longo das décadas o estádio foi palco de inúmeros eventos desportivos. A 19.5.1966, foi inaugurado o pavilhão Gimnodesportivo, hoje designado pavilhão nº 1. Nos anos 70, o Estádio deparou-se com algumas dificuldades financeiras, falta de utentes e degradação de equipamentos. Todavia, em 1981, construiu-se o pavilhão nº 2, aumentando a capacidade de oferta do Estádio para a prática do andebol, voleibol, futsal e outras actividades físicas. Dois factos importantes na história do Estádio são a aprovação da Lei Orgânica que beneficiou a instituição de autonomia financeira, administrativa e quadro de pessoal e a publicação do Plano de Reordenamento do EUL, que veio definir os limites territoriais.


Apeteceu-me desenhar como as crianças. Sobre uma foto aérea da zona da Cidade Universitária feita com o google maps de 2009, desenhei a verde os limites das instalações do CDUL em 1962/64, ou como dizíamos o Estádio Universitário. Com cores diferentes desenhei o Bairro da Quinta da Calçada e algumas coisas que havia ali dentro e ao seu redor. Tudo isto foi feito de memória (que por vezes falha), como tudo na vida. É possível que contenha erros mas nada de significativo. Clique para aumentar.


Estádio Universitário

Na década de 90, foi alvo de remodelações por parte do arquitecto Karel Mariovet, o que possibilitou o acolhimento do Campeonato do Mundo de Juniores de Atletismo. Edificado pelo arquitecto Frederico Valssassina e inaugurado a 10.07.97, o Complexo de Piscinas é visto, hoje em dia, como um dos valores da capital, pelo facto de dispor de excelentes condições para o convívio e para a prática do desporto, tendo por isso um elevado número de utentes. A 5.10.2004, sendo o engenheiro Vasco Pinto de Magalhães homenageado pelo contributo dado na área da educação desportiva e pelo trabalho que desenvolveu na criação do Recinto Desportivo, foi descerrada uma placa, e passou a denominar-se Estádio de Honra Eng. Vasco Pinto de Magalhães. Actualmente, com capacidade para cerca de 3600 lugares, é composto por um campo de relva natural, oficialmente destinado para a prática de futebol de 11 e de râguebi. Tem, também, uma pista de atletismo, com medidas oficiais para a realização das provas. Refira-se finalmente que, em redor, é embelezado por várias estátuas alusivas a alguns dos desportos praticados no recinto. É actualmente o mais bem equipado parque desportivo da cidade de Lisboa.»
(Texto: marcasdasciencias.fc.ul.pt)

Panorâmica tirada do Hospital de Santa Maria para norte, vê-se parte da Cidade Universitária 
e no meio daquelas árvores ficava o Bairro da Quinta da Calçada. 1961. Artur Goulart.

Vista Aérea em 1939, do Bairro da Quinta da Calçada, como foi concebido e construído. Assinalado a vermelho a parte que foi destruída, para fazerem a pista de Atletismo do CDUL no Estádio Universitário. Como se pode ver, nesta altura ainda não estava construída a igreja, o mercado, o centro social, nem o infantário e as escolas. Foto copiada de publicação da CML. 

A pista de Atletismo do CDUL no Estádio Universitário, vendo-se a chaminé da fábrica 
de tijolo, a escola dos rapazes e o prédio do Largo das Fonsecas. 1961. Artur Goulart. 

Vista Aérea em 1940, do Bairro da Quinta da Calçada A parte que se vê na foto foi destruída, para fazerem a pista de Atletismo do CDUL no Estádio Universitário. Vê-se ainda um campo de futebol de que não tenho memória. Foto copiada de publicação da CML.

A entrada principal do Estádio Universitário. 1961. Artur Goulart.

Entrada principal do Estádio Universitário. 2009. Google View.

Este é o segundo portão do Estádio Universitário, aos poucos foi-se tornando o mais importante porque era por onde entrava e entra todo o transito. Deste portão começa uma rua que atravessa todo o estádio e que vai até aos campos que ficam perto da Segunda Circular. Recordo-me bem do edifício que esta á direita, porque, quando aquilo estava a ser construído (por volta de 1964/65), nós miúdos íamos para lá brincar depois dos operários terminarem o dia de trabalho. Uma vez mandei-me da parte mais alta, para cima de um monte de areia mas bati contra uma pedra que estava na areia e rachei o calcanhar e o resultado foi ter ido para o hospital e andar engessado um ou dois meses, mas, passado umas duas ou três semanas já jogava à bola com o gesso. 2009. Google View. 

Estádio Universitário, traseiras da cantina dos estudantes, 
vendo-se ao fundo o estádio de Alvalade. 1961. Artur Goulart. 

Estádio Universitário, a cantina dos estudantes. Ainda cheguei a ir aqui várias vezes aos Carnavais e passagens de Ano, que os estudantes organizavam, mas já devia ser crescido. 1961. Artur Goulart. 

Estádio Universitário, estátuas de bronze?, representando várias modalidades. Estavam espalhadas por todo o estádio. Lançador de Martelo, 1969. João Brito Geraldes. Jogador de Râguebi, 1960. Arnaldo Madureira.

Estádio Universitário, estátuas representando várias modalidades. Estavam espalhadas por todo 
o estádio. Jogador de Futebol, 1968. João Brito Geraldes. Corredor de Atletismo, 1961. Artur Goulart.

Avenida Professor Egas Moniz, situada entre o hospital de Santa Maria e o Estádio Universitário. Ao Fundo virava-se à direita para ir para o Largo da Fonsecas e Quinta da Calçada e à esquerda para Palma. Nesta altura o alcatroado acaba ali ao fundo as outras estradas eram de terra batida. 1961. Artur Goulart. 

Terrenos anexos à Cidade Universitária. Creio que foi aqui 
que fizeram o pavilhão do CDUL. 1961. Artur Goulart. 

Estrada no prolongamento da avenida Professor Gama Pinto, entre o Hospital de Santa Maria e a Cidade Universitária. Creio que isto era perto da entrada para o canil e também perto da estrada para o hipódromo. 1961. Artur Goulart. 

Estrada no fim da avenida Egas Moniz, vendo-se a velha vedação de madeira dos terrenos do Estádio Universitária e que ia dar ao Largo da Fonsecas. Pouco depois (creio), colocaram paralelipipedos. Não tenho bem a certeza do que estou para aqui a dizer mas, se estiver certo, à esquerda da foto havia o caminho para Palma. 1961. Artur Goulart. 

Aqui era o fim da avenida Egas Moniz, Não tenho bem a certeza do que estou para aqui a dizer porque não me recordo nada desta casa, mas se estiver certo, à esquerda da foto havia o caminho para Palma. 1961. Artur Goulart. 

Crise académica de 1962. Reunião de estudantes no estádio.
Foto encontrada em caminhosdamemoria.wordpress.com. 

Crise académica de 1962. Reunião de estudantes no estádio.
Foto encontrada na net

Tenho uma vaga memória de ter andado por aqui nestes dias e creio que chegámos a arrancar pedras da calçada para os estudantes mandarem à policia, mas já não sei se aconteceu mesmo ou se são memórias cruzadas. Nós miúdos, passava-mos "horas" depois da escola na Cidade Universitária, enquanto os nossos pais não vinham do trabalho, muitas vezes íamos ter com os estudantes pedir cigarros ou até apanhar beatas e recordo-me de ter havido uma carga da policia (que eu não vi) e de muitos estudantes terem fugido para dentro do Hospital de Santa Maria e de os "choques" da policia terem ficado à porta na zona dos autocarros (isto eu vi), não sei se depois entraram. Mas como disse já não tenho a certeza de nada e isto pode ter acontecido noutro ano mais prá frente.

Cidade Universitária. 1961. Artur Goulart. 

Cidade Universitária. Obras em frente à Reitoria. 1961. Artur Goulart. 

Cidade Universitária. Obras em frente à Reitoria. 1961. Artur Goulart. 

Panorâmica dos jardins do hospital de Santa Maria e da Cidade 
Universitária, tirada do terraço do hospital. 1961. Artur Goulart. 

Panorâmica tirada do hospital de Santa Maria, vendo-se a Cidade 
Universitária e, ao longe, o estádio José de Alvalade. 1961. Artur Goulart. 

Noticia num jornal Expresso de 1981, com referencia ao Bairro da Quinta da Caçada. 

Mapa dos anos 80 das instalações do Estádio Universitário, ainda com a 
parte do Bairro da Quinta da Caçada. Mapa encontrado em www.apada.org 

Foto do meu irmão Carlos, aí pelos anos 80, num dos campos situados junto à 
Segunda Circular, com dois dos seus filhos (meus sobrinhos), a Iara e o Ricardo. 

Noticia em O Jornal, com referencias à Quinta da Calçada, de quando o exercito 
andou a "alisar" os terrenos do Estádio Universitário junto à Segunda Circular à borla?. 

Estádio Universitário, estátuas representando várias modalidades. 
Fotos de 2010, encontradas em marcasdasciencias.fc.ul.pt


«O campo foi projectado como um pequeno estádio olímpico, com características monumentais e destinado à prática de várias modalidades: rugby, futebol, andebol, hóquei em campo e atletismo. O conceito artístico e de monumentalidade seria dado pela construção de estátuas alusivas à temática desportiva, distribuídas em redor do campo principal. Em 1958, foram construídas 7 estátuas: "O jogador de futebol" por Hélder Baptista; "O halterofilista" por Manuel Laranjeira Santos; "O jogador de rugby e o lançador de martelo" por Manuel Borges; "O lançador de disco" por Maria Helena Matos; "O corredor" por Stela Albuquerque; "A esquiadora" por Maria Gabriela Cordeiro Veloso; e, em 1964, "O salto" por Daniel Luzia. No 50º Aniversário, em 2006, foi ainda inaugurada uma "Escultura Comemorativa", do mestre José Rodrigues.»
(Texto: marcasdasciencias.fc.ul.pt)

Estádio Universitário, zona do antigo canil. 2009. Google View. 

Mapa das instalações actuais do Estádio Universitário, encontrado em eul.pt. 


(As foto não assinaladas são do Arquivo Fotográfico da CML)

2 comentários:

  1. Boa noite. Caso este blog ainda esteja activo, gostaria de lhe perguntar se tem memória
    e fotos de uma oficina de reparação auto, que ficava por baixo do estádio universitário
    numa espécie de barracão, perto daquela fábrica com chaminé de tijolo,que se vê numa das
    suas fotos. Eu lembro-me de ir lá com o meu pai para reparar-mos o nosso Austin 850 por
    volta de 1970/71.
    Obrigado

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    1. Bem, o blog neste momento ja esta em modo de hibernação por o criador do mesmo (Meu tio), faleceu em 2013.

      Cumprimentos,

      Luis Grave

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