23 de setembro de 2012

A Escola de Telheiras

Onde fiz a Instrução Primária


A antiga Escola de Telheiras. Actualmente creio que é uma das casas de apoio aos doentes com sida. 
Ainda bem que serve para alguma coisa decente. 2009. Foto feita com o Google view. 


Em Redor da Quinta da Calçada


A memória mais antiga que tenho da escola de Telheiras, onde fiz a instrução primária, é de no primeiro dia? de escola, ser o dia de levar vacinas e de estarmos em fila e aterrorizados. A certa altura alguns dos miúdos mais velhos saltaram pela janela para não levarem as vacinas, as salas de aula eram no primeiro andar (pelo menos a minha) e sempre são uns três metros até ao chão. No meu tempo a escola só tinha uma porta ao meio, a outra foi acrescentada mais tarde. Entrava-se e havia umas salas à direita e à esquerda e umas escadas para o primeiro andar, onde havia um corredor grande e mais duas salas. Não sei porque fui para aquela escola, já que o meu bairro tinha duas escolas; de rapazes e de raparigas. Creio que deve ter sido porque, ou estavam cheias ou porque eu tinha seis anos e naquele tempo só se entrava com os sete anos já feitos.


A antiga Escola de Telheiras em 2010?, vista de um dos prédios que 
ficam junto à Azinhaga da Galhardas. Foto encontrada em panoramio.com. 


O que é certo é que entrei ainda com seis anos e fiz os sete a 24 de Setembro. Naquele tempo as escolas começavam nos inícios de Setembro. A escola correu-me bem, entrei aos seis e saí aos dez anos, recordo que tinha facilidade em aprender e um grande jeito para o desenho, dos professores e dos auxiliares, tenho algumas memórias mas que não chegam para me lembrar dos nomes, mas não tenho razões de queixa, por aí além. Creio que tive sempre professoras e só no último ano tive um professor. Houve uma professora que era um bocado mais ousada e trazia umas saias "curtas" e recordo que cruzava as pernas, o que possibilitava umas "visões místicas e vibrações cósmicas", a mim, ao Luis Pintor e ao Matateu, que era com quem eu me dava mais naqueles tempos. Um dia, arranjei uma régua não sei onde e resolvi oferecer a esta professora e para desgraça minha, fui o primeiro a levar com ela. As ponteiradas no cimo da cabeça, de que eu ouvia falar que davam noutras escolas ali era raro, mas lembro que de vez em quando (quando o caso tinha sido "grave"), éramos postos em fila e todos levavam reguadas. 


Foto do final do ano lectivo da Escola de Telheiras, eu estou de camisola branca ao pé do professor, de braços cruzados e de cabelo louro, ao meu lado direito está o Matateu (que já não vejo à mais de trinta anos e no meu lado esquerdo está outro puto da fábrica, que não recordo o nome mas acho, que era ou família do Matateu ou vivia perto dele. Aí na foto também deve estar o Luis Pintor, não sei se será o primeiro do lado direito sentado no chão. Recordo muitas destas caras mas os nomes zero. Os putos que estão na parte de cima estão em cima de um muro de um tanque de agua, que estava sempre cheio, mas não faço ideia para o que servia. Não deve haver na foto muitas mais crianças da Quinta da Calçada porque só iam para a Escola de Telheiras os que não tivessem lugar nas do bairro. A foto tem alguns problemas ao nível dos olhos porque alguém (se calhar eu, ou um dos meus sobrinhos) dedicou-se a riscá-los. Foto Francisco Grave.

O "Matateu", eu e outro puto de que não recordo o nome.

Uma das coisas que nunca compreendi é porque os exames da quarta classe eram feitos no Lumiar, quando todos os outros foram feitos na Escola de Telheiras. No Edifício da Escola de Telheiras, que devia ser uma antiga casa principal de uma quinta e que terá agora uns cem anos ou mais, vivia lá uma senhora que ou era a guarda ou governanta da casa, o que sei é que era ela que cuidava da limpeza da escola. Era conhecida por a Maria dos Porcos, porque tinha um trabalho de cuidar de porcos ali perto na chamada Quinta da Câmara (hoje, terrenos do Estádio Universitário). Mais tarde, fazia negocio a vender gelo, recordo ir lá comprar gelo já na minha adolescência, quando chegava o verão e queríamos refrescar as bebidas, porque naquela altura era rara a família que tinha frigorífico no Bairro da Quinta da Calçada. Quando terminei a instrução primária, os meus pais perguntaram-me se eu queria ir para o liceu, que eles fariam um esforço, para que eu continuasse a estudar, mas eu estupidamente disse que queria ir trabalhar e só vinte e tal anos depois é que fui estudar outra vez.


Foto de uma festa na Escola Alemã em 1970. Do outro lado da Segunda Circular (que é o que nos interessa), vê-se algumas casas da Quinta da Calçada, o Mercado e os Tanques. Os terrenos à direita eram as hortas que iam até à Escola de Telheiras e os terrenos ao centro era a chamada Quinta da Câmara, que ia até ao hipódromo e ao canil. 1970. Nuno Barros Roque da Silveira.

A Escola de Telheiras em 1962, no tempo em que eu andava nela e aprendia coisas, umas que serviram mais tarde, outras não. Esta foto é das traseiras, onde está a varanda, as escadas e a parte de baixo, mais a zona da árvore, era tudo território da chamada Maria dos Porcos. 1962. Artur Goulart.

A antiga Escola de Telheiras em 2010?, vista de um dos prédios que 
ficam junto à Azinhaga da Galhardas. Foto encontrada em nezclinas.blogspot.

Fachada da Escola de Telheiras. 1968. João Goulart.

Azinhaga das Galhardas com a Escola de Telheiras ao fundo. 1940. Eduardo Portugal.

Azinhaga das Galhardas com a Escola de Telheiras ao fundo, tirada mais ou menos da mesma zona que 
a foto anterior. Há 70 anos de diferença entre as duas. 2010?. Foto encontrada em nezclinas.blogspot.

A Segunda Circular acabadinha de alcatroar, com a Escola de Telheiras ao fundo. Por 
trás das árvores à direita ficava o Bairro da Quinta da Calçada. 1962. Artur Goulart.

A Segunda Circular em obras, com a Escola de Telheiras ao fundo. Por trás 
das árvores à direita ficava o bairro da Quinta da Calçada. 1961. Artur Goulart. 

Da porta da Escola de Telheiras, olhando para Telheiras era isto que se via, no tempo em que eu 
andava na escola. A moradias à direita são do Bairro Jardim de Telheiras. 1961. Artur Goulart. 

Zona perto da Escola de Telheiras onde nos recreios costumava-mos brincar. A rua 
é a Azinhaga das Galhardas que ia até ao pé do "Rabaçal". 1961. Artur Goulart.


Aqui foi onde fiz o exame da quarta classe. Tenho uma vaga memória de ter feito o exame; prova oral e escrita, de ter esperado um bocado a ver se tinha passado, de me darem uns papeis e de ter voltado a pé para o nosso bairro e de a certa altura ter dado por me terem caído um ou dois papeis, voltei para trás e encontrei-os perto da zona da Tobis (há dias de sorte). Este edifício fica na Alameda da Linhas de Torres e pertenceu à Sociedade Instrução e Beneficência José Estêvão fundada em 1911, creio que era um antigo Centro Escolar Republicano, que o Estado Novo aproveitou. Está há anos abandonado e espero que não o mandem abaixo, é um edifício de interesse histórico, creio eu que, não percebo nada disso. Foto a preto e branco: 1966. Artur Goulart. Foto a cores: 2009, feita com o Google view.



EVOLUÇÃO E SITUAÇÃO ACTUAL DOS
CENTROS ESCOLARES REPUBLICANOS


«Os Centros Escolares Republicanos fazem parte da riquíssima história do associativismo, tão vigoroso na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Fenómeno também europeu o associativismo oitocentista visava responder aos problemas e solicitações sociais decorrentes de transformações muito importantes, então vividas tanto na sociedade portuguesa como nas demais sociedades dos países ocidentais.
Entre essas transformações, merece referência particular o fenómeno do desenvolvimento das cidades, decorrente do crescimento demográfico e das intensas migrações do campo para as cidades. É neste contexto historicamente inédito que se assiste ao declínio de formas tradicionais de sociabilidade, à proletarização de camadas importantes da sociedade, à emergência de formas novas de pobreza e mesmo ao agravamento de formas de comportamentos desviantes como o alcoolismo, a vadiagem e a prostituição. Da imensa variedade de todos esses problemas decorre a infinita variedade das associações então criadas, muito diversas quanto à sua natureza, às suas finalidades e às qualidades e condições sociais dos seus associados.» 
( In, www.sg.min-edu.pt)  Ler Tudo Aqui



(Fotos do Arquivo Fotográfico da CML, excepto as assinaladas)


5 comentários:

  1. O que eu já ganhei hoje, eu estou na foto, sou o 7º da 1ª fila :)
    E não tinha esta foto :)
    Andei na escola com o seu tio, mas não me lembro da cara dele, saí de lá com 9 anos. Mas reconheço algumas caras na foto, sem me lembrar de nomes.
    Obrigado!

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  2. Ainda bem que serve de alguma coisa manter os blogs do meu tio :)

    Cumprimentos,

    Luis Grave

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  3. O meu obrigado, é com muita emoção que me revejo nesta foto e lembro-me de praticamente de todos.
    Por uma questão de saúde da minha mãe que continua a viver junto da quinta de S. Vicente tenho privado mais com amigos tanto do bairro da quinta da calçada como de telheiras que me alertaram para o falecimento do seu tio, os meus sinceros pêsames.O meu bem haja pelo legado que deixou e pelas recordações de toda a minha infância.(sou o terceiro a contar da direita na fila do chão).

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  4. Encontrei este blog por mero acaso, também eu Raimundo andei contigo na escola, e com o Nicolau, e o meu primo Ventura que era da 4ª classe, eu era da 1ª classe. Também eu tenho esta foto. Que recordações...o Amadeu, caramba...ainda me lembro bem do recreio nas traseiras e do médico que de vez em quando aparecia para dar vacinas, a recitar ...batem leve, levemente como quem chama por mim...dificil esquecer(ogaspar1957@gmail.com)

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    1. Caro Orlando, o seu primo era da família Ventura do Bairro Jardim (em frente à lateral da igreja)? Eu morava na Quinta do Convento.
      Eu encontrei o blog há 3 anos quando estava a pesquisar a localização de um banco em Telheiras. Temos aqui informação preciosa sobre toda aquela zona.

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