3 de abril de 2013

TELHEIRAS - PARTE UM

Em redor da Quinta da Calçada


Foto aérea de 1942 (ano em que o aeroporto foi inaugurado),  mas 
pode ser de antes, com algumas zonas assinaladas. Clique para aumentar.

As memórias mais antigas que tenho de ir a Telheiras, são de ir à taberna do Rabaçal comprar carvão e de ir à chinchada (roubar fruta) ao Bairro Jardim e ás quintas que havia em redor de Telheiras. Algumas destas quintas eram enormes, maiores que o próprio Campo Grande. Havia uma, onde mais tarde fizeram a Av. Padre Cruz, que tinha pereiras desde Telheiras até ao Lumiar (ou assim me parecia). Uma vez, nessa quinta, tive que ficar pendurado nas árvores durante umas duas horas porque os cães que guardavam a quinta não saiam dali e era costume sermos corridos a tiro pelo guarda com uma caçadeira de sal (?). Lembro-me de um grande incêndio numa outra quinta, em que ardeu quase tudo, incluindo muitos animais, recordo de ver uma vaca de patas para o ar completamente assada. Já tinha anoitecido mas, ficamos por ali ajudando os bombeiros a estender as mangueiras e às vezes segurando a agulheta, que nos fazia balançar dum lado para o outro tal a força do jacto de água. Havia e há o Bairro Jardim, que era uma espécie de Restelo em pequeno e que mais tarde teve como moradores: o Sérgio Godinho, a Márcia Breia, o Pedro D'Orey e outros, mas estes cheguei a conhecê-los. Recordo muito bem da construção do Colégio Alemão, onde algumas das vezes entrávamos à socapa e onde o meu irmão foi apanhado pelo guarda uma vez. Recordo ainda as muitas tabernas que havia na Estrada de Telheiras, que começava no Campo Grande e acabava a seguir à Quinta de São Vicente. Mais ou menos a cada 100 metros e às vezes menos, havia uma taberna. As que recordo melhor, era a que ficava no convento ao pé da igreja e onde trabalhava a Lúcia e uma que ficava nas traseiras do Bairro Jardim, que de um lado era a Drogaria e do outro era a taberna e merceeiria. 

Rua Filipe Duarte vista da Segunda Circular. Ao fundo vê-se as traseiras da Igreja e do Convento. 
A foto de cima é de 1961 e a de baixo é de 1962, nesta, vê-se parte do Colégio Alemão. Artur Goulart.

Rua Filipe Duarte vista do lado contrário. Aqui pode ver-se que o Colégio Alemão ainda não estava construído nesta zona. Se as datas das fotos estiverem corretas, conclui-se que levou entre ano e meio a dois anos a ser erguido. 1961. Artur Goulart.

Como andei na Escola de Telheiras, conhecia imensos miúdos de lá, mas fui perdendo o rasto deles ao longo dos anos. Já adolescente, fui várias vezes a bailes no clube de telheiras que ficava a um canto do convento e também frequentei bastantes vezes, a Quinta de São Vicente, onde se bebia uma imperiais e comia-se uns petiscos mas isso foi quando já era crescido. Tenho uma Tia (Aurélia), que a certa altura casou com uma pessoa de Telheiras (o Joaquim) e foi morar para um Pátio perto da curva que a Estrada de Telheiras fazia antes de chegar à Igreja e recordo de ir visitá-la algumas vezes, mais  tarde foram viver para Pias, a terra da minha tia e da minha mãe. Agora enquanto escrevo isto recordei mais uma coisa; recordo de muito miúdo ir com uma das minhas irmãs (A Emília?) à sopa dos pobres que ficava no Lumiar (buscar pão principalmente), íamos por Telheiras, pela Azinhaga das Galhardas até ao Largo do Chafariz (ao pé do Rabaçal) e daí apanhávamos outra Azinhaga (a do Paço do Lumiar?) que ia até ao Lumiar. Esta Azinhaga tinha imensas árvores que tapavam a luz do sol e por isso algumas zonas eram muitos escuras. Tanto eu como a minha irmã íamos cheios de medo, houvíamos uns barulhos, geralmente dos ramos das árvores a mexer com o vento e ficávamos a tremer, mas nunca aconteceu nada. Esta sopa dos pobres ficava perto do largo em frente do que é hoje o Museu do Traje, ali perto do cemitério do Lumiar e não sei quando acabou, mas creio que o edifício ainda lá está. Tenho mais algumas memórias de Telheiras e do Bairro Jardim, mais ou menos actuais, mas isso agora não interessa nada. Deixo aqui um monte de fotos de Telheiras e se não chegar um post, farei mais um e espero que este não desapareça como aconteceu a um outro que já tinha feito sobre Telheiras.

Azinhaga das Galhardas: Na foto da esquerda, o Largo do Poço onde terminava a Azinhaga das Galhardas, juntando-se à Estrada de Telheiras. 1961. Artur Goulart. Na foto da direita, o Largo do Poço visto da subida da Azinhaga que terminava aí. À direita da casa que se vê ao fundo, havia uma ruela muito estreita entre essa e outra casa e que ia dar ao pé da taberna do Rabaçal. 1968. João H. Goulart.

A Azinhaga das Galhardas foi cortada pela construção da Segunda Circular, esta é a parte referente a Telheiras, vendo-se à direita parte do Bairro Jardim (que ainda existe) e à esquerda todas as construções que se vêem foram deitadas abaixo. Aqui (de onde foi tirada a foto) houve durante alguns anos um cruzamento. Penso que mais tarde desapareceu por causa dos muito acidentes que havia. 1961. Artur Goulart.

Colégio Alemão visto da Segunda Circular com a Igreja e o Convento ao fundo. As ovelhas que se vêem nas fotos era normal encontrarmos por ali naquela altura e os miúdos talvez fossem da Quinta da Calçada, aliás foi mais ou menos aqui que uma vez o meu irmão foi apanhado pelo guarda. 1962. Artur Goulart.

Interior das instalações da Escola Alemã de Lisboa ou Colégio Alemão (como nós sempre dissemos). Alunos da escola na Festa de Verão. Na foto da direita vê-se o Hospital de Santa Maria e parte do Baiiro da Quinta da Calçada. 1970. Nuno Barros Roque da Silveira.


 Estrada de Telheiras, vendo-se ao fundo a igreja. 1961. Artur Goulart.


Estrada de Telheiras cruzamento com a Azinhaga do Ameixiais. 1967. Arnaldo Madureira.

Largo do Chafariz ou do Rabaçal como nós chamávamos. A Azinhaga que se vê creio que se chamava Azinhaga do Paço do Lumiar. A legenda da foto diz: O portão que se vê na imagem pertencia ao palácio do nobre que era conhecido pelo nome de Dom João de Cândia. 1968. João H. Goulart.

 Estrada de Telheiras, esquina com a Azinhaga das Galhardas. 1965. Armando Serôdio.

Rua Filipe Duarte, que ladeia o Bairro Jardim desde a Estrada de Telheiras até à Segunda Circular; a capelita (?) que se vê na foto desapareceu dali com o desenvolvimento urbanistico de Telheiras. Ficava nas traseiras da Igreja e ali havia uma entrada para um pátio enorme que existia por detrás do Convento. Segundo uma amiga minha que vive em Telheiras essa construção está agora dentro da Igreja.  1961. Artur Goulart.


 Largo do Chafariz ou do Rabaçal como nós chamávamos. 1968. João H. Goulart.

Estrada de Telheiras perto da Campo Grande, vendo-se parte do antigo campo do Sport Lisboa e Benfica, que anteriormente tinha pertencido ao Sporting. Este estádio era todo em madeira e durou até aos anos 70. 1960. Artur Goulart.

 Estrada de Telheiras. Entrada para o restaurante da Quinta de São Vicente. 1968. João H. Goulart.

Estrada de Telheiras. O edifício que se vê era a drogaria, à esquerda da foto havia outra construção igual a esta, que tinha merceeiria e taberna, onde miúdo fui muitas vezes fazer recados à minha mãe e buscar o meu pai. 1967. João H. Goulart.

Estrada de Telheiras junto à quinta de São Vicente e traseiras da quinta de São Vicente na antiga estrada de Telheiras, à esquerda casas dos antigos feitores da quinta. 1961. Arnaldo Madureira.

 Bairro Jardim. 1961. Artur Goulart.

Estrada de Telheiras perto da Campo Grande, vendo-se à direita parte do antigo campo do Sport Lisboa e Benfica e à esquerda parte do Olival dos terrenos do CIF. 1960. Artur Goulart.


Estrada de Telheiras perto da igreja. 1968.  João H. Goulart.

Curva da Estrada de Telheiras que dava para o Largo do Chafariz. 1968.  João H. Goulart.


 Estrada de Telheiras, esquina com o Campo Grande. 1965. Armando Serôdio. 

  Bairro Jardim. 1961. Artur Goulart.

  Bairro Jardim. 1968. João H. Goulart.

 Azinhaga das Galhardas junto ao Bairro Jardim. 1970. João H. Goulart.

 Azinhaga de Telheiras perto do Largo da Luz. 1961. Artur Goulart.

 Estrada de Telheiras junto ao Campo Grande, à esquerda A Sanzala. 1960. Arnaldo Madureira.

Estrada de Telheiras, nº 50 e nº 10. 1965 e 1967. Augusto de Jesus Fernandes e João H. Goulart.

  Estrada de Telheiras,70. 1965. Armando Serôdio.

Estrada de Telheiras, 150 e 180. 1968 e 1970. João H. Goulart.

 Estrada de Telheiras 180. 1970. João H. Goulart.

 Estrada de Telheiras, anos 40. Eduardo Portugal.

Fábrica de tijolo na Quinta de São Vicente. 1961. Artur Goulart.

Estrada de Telheiras. 1970. João H. Goulart.

 Estrada de Telheiras 60, Pátio do Artilheiro. 1970. João H. Goulart.

  Estrada de Telheiras 145, Pátio. 1970. João H. Goulart.

  Estrada de Telheiras, 45. Quinta das Raposeiras. sem data. Vasco Gouveia de Figueiredo.

  Estrada de Telheiras, 45. Quinta das Raposeiras. sem data. Vasco Gouveia de Figueiredo.

 Quinta de São Vicente, vista geral e instalações para suínos. 1961. Artur Goulart

Igreja do convento de Nossa Senhora da Porta do Céu. 1964. Armando Serôdio. 


(Fotos do Arquivo Fotográfico da CML)


26 comentários:

  1. rui magalhaes - escola primaria telheiras 1972/7630 de agosto de 2013 às 01:09

    fogo velhos tempos, largo do poço onde morei no r/c do nº 4, e o rabaçal onde tanta vez comi bons petiscos de cobra frita quando o sr martinho as apanhava e fazia o petisco na taberna do rabaçal. que boas recordações desses tempos. parabéns pelo sitío.

    ResponderEliminar
  2. A minha mãe era de Telheiras, do pátio do Convento. A taberna ali ao pé era o 'Manel Jorge'. Passei o primeiro ano de vida nas traseiras da capelista, num berço de madeira (caixa de sardinhas, oferta da peixeira ti Paula, mãe do 'popixa') Tínhamos ali muita família, no Largo do Poço... no pátio Sousa (o poço ainda lá está!)... numa das fotos vê-se uma senhora a estender roupa, acho que é uma prima... Lembro-me que , havia o talho do Jaquim, ao pé da quinta de S. Vicente... o Fernandes funileiro... a ti Matilde que vendia a pagamentos... o Augusto 'Piolho', que tinha pombos...
    Obrigado por estes momentos!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boas tarde adorei ver a onde nasci o meu avô era porteiro no restaurante Quinta de São Vicente vivia no pátio machado a onde tinha a cabeleireira Augusta o nome do meu avô era Abel e a minha avo maria Vitória a minha mãe celeste os meu tios Reinaldo e quim ,depois a minha mãe casou e foi viver para o bairro da Quinta da calçada numa barraca de madeira feita pelo meu pai o nome era diamantino .mesmo ao lado da escola amarela

      Eliminar
    2. Boa tarde! Estou à procura de informações e do local atual da Quinta de São Vicente, onde se fazia casamentos na década de 70. Os meus pais casaram la. Deve ter sido no Restaurante que aqui refere, será? Sabe indicar-me coordenadas e/ou se ainda existe algum restaurante (e qual) ou local de eventos lá ou nas imediações? Gostava de lá levar os meus pais mas queria fazer surpresa :) Muito obrigada, pela informação e fotos no blog e por estes (e em particular este) comentários :)

      Eliminar
    3. Sim, ainda existe o edifício da Quinta de S. Vicente. Fica em Telheiras. A entrada mais fácil é hoje por um jardim que fica na R. Prof. Francisco Gentil. O restaurante antigo não existe, mas há um café-esplanada, mais ou menos no lugar o de antes havia o café dentro da Quinta.

      Eliminar
  3. Velhos tempos os meus datam de 1976-1990 vivi no bairro da estrada de telheiras tambem conheci a taberna do senhor manel e a dona maria o rabacale fiz a escola primaria em telheiras, as festas na esquina do convento, as minhas amigas de brincadeira a SUSANA;ROSA;ELISABETE;DAVID;ISABEL.quem me dera voltar a traz ou as encontrar de novo ....
    a minha avo de coraçao a deonilde ....

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ola fatima uma encontras te sou a rosa que morava na taberna do S. Manuel e D. Maria es tu a maria de fatima da silva frias se sim responde adorava entrar em contacto contigo bjs

      Eliminar
    2. ola nao acredito... um anjo passou por aqui o teu avo e o meu papa ...
      Ola se taes facebook manda um convite renato e fatima carneiro

      Eliminar
    3. Ola rosa só o paulo a minha mãe trabalhava na sede a onde faziam os bailes e o cinema ao lado da igreja brincamos muitas vezes

      Eliminar
    4. Ola rosa o meu número 918864360 paulo e tu Fatima es a filha do carlos Pinto

      Eliminar
    5. ola nao eu era a filha do antonio frias e o meu irmao mais novo chamanva o de branquinho

      Eliminar
  4. Ainda bem que o blogue do meu falecido tio ainda serve para alguma coisa :)

    Cumprimentos a todos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. obrigada por continuar a dar vida as minhas mémorias ....

      Eliminar
    2. Queria lhe agradecer graças a este blog finalmente encontrei-me com a minha infancia, 27 anos depois para os meus 40 anos 25.09.2016 ,encontro supresa com algumas das minhas amigas ISABEL,ELISABETE...Pena a Rosa nao ter podido vir que foi graças a ela que nos encontramos...e ainda nao termos encontrado a Susana IRENE Telheiras modou muito e o lado das barracas que jà nao existem esta quaise inreconhecivel...

      Eliminar
    3. voltamos là este verão e consegui juntar todas desta vez a susana,beta,isabel,rosa e eu depois de tantos anos obrigada nao sei ainda como agradecer a este blog voltei a encontrar as minhas manas de coracao nao as largo mais ....

      Eliminar
    4. Eu também conhecia o meu nome e paulo ex cunhado do carlos Alberto conhecido por galinhas

      Eliminar
  5. PS: estou a usar a conta dele, visto estar eu a manter os blogues dele.

    Cumprimentos,

    Luis Grave

    ResponderEliminar
  6. A procurar a CGD em Telheiras, encontrei o Blog :)
    Nasci em Telheiras em 1958 e vivi lá até aos 9 anos, na Quinta do Convento. O Manuel Jorge, da taberna/mercearia do Convento era o nosso senhorio. O meu pai tinha a alcunha de Benfica. Andei na escola na Azinhaga das Galhardas. Aos domingos via-se televisão na colectividade do Convento. Velhos tempos...
    Obrigado, Francisco Grave, por manter o Blog do seu tio.
    Cumprimentos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boas tardes eu também a minha mãe e que fazia as limpezas colectividade

      Eliminar
  7. "O edifício que se vê era a drogaria"... sim, era da minha avó Infância Figueiredo. E ao lado era a barbearia. Foi aí, nesse lugar, que nasci, em março de 1956. Em julho de 1977, após casar, em Vila Nova de Gaia, onde ainda hoje moro, voltei a Telheiras, para tomar conta do negócio da drogaria... passados dois meses, chamaram-me para a tropa, e o negócio ficou por ali...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também era minha avó,mano :)
      Como me lembro do petróleo, que era azul e dia caixas de pregos. E claro da barbearia. Acho que também havia ao fundo uma oficina de automóveis...

      Eliminar
    2. Também era minha avó,mano :)
      Como me lembro do petróleo, que era azul e dia caixas de pregos. E claro da barbearia. Acho que também havia ao fundo uma oficina de automóveis...

      Eliminar
    3. Tanta vez que fui à D. Infância fazer recados à minha mãe <3

      Eliminar
    4. Ola o meu nome e Paulo a oficina era do meu tio e do tonicha

      Eliminar
    5. Era a oficina dos citroen das corridas pop cross na altura

      Eliminar
  8. Agradeço o avivar de memórias dos meus tempos de juventude, onde nos anos 60 me diverti nos bailes de carnaval nos reservados da quinta de S. Vicente, e onde também era habitual cliente do restaurante e a comida era muito boa
    Lembro também haver uma nora puxada pelo vento.
    Bem hajam..

    ResponderEliminar